segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Comemore Maranhão, somos os primeiros no ENEM!


Ronald Corrêa

Não sei por que, mas já não me assusta, alarma ou surpreende quando vejo o Maranhão ser noticiado nacionalmente pelos seus prodigiosos feitos negativos. Alias, até sei o porque: tá mais que na cara os motivos que o conduziram a tais feitos. O mais recente foi o nosso brilhante resultado alcançando no Exame Nacional do Ensino Médio, vulgo ENEM: último colocado.
É uma triste realidade, disso não há do que discordar. Agora, se surpreender é algo que já foge às raias da sanidade. Um estado que trata educação como um mero detalhe, uma pasta a mais, um pesado fardo que recai sobre os ombros do poder público, não poderia esperar resultado diferente.
Mas seria injustiça culpar apenas o estado por todo esse insucesso. Se ainda estivesse nos bancos da academia, sob a pesada ditadura catequética esquerdista que lhe é tão comum, diria que a culpa é do sistema. Dado que a idade, e muito menos a consciência, não me permitem esses pueris devaneios, é melhor pôr os óculos da realidade para melhor entender quais os personagens que contribuem, cada um com sua devida parcela, para chegarmos a atual situação.
Dado que o ENEM é um exame voltado para o ensino médio, e sendo este de incumbência dos Estados, o governo estadual tem sim sua parcela de culpa. E ela fica clara quando se percebe o escasso número de escolas desse nível de ensino no interior do estado. O mesmo governo que usa helicóptero público para servir aos interesses particulares do pai da chefe do executivo é também o que não tem uma clara e coerente política de formação continuada de seus profissionais da educação. Só para não incorrer em delongas, para governo algum, educação pública de qualidade nunca foi prioridade.
Somemos ao descaso do poder público uma grande leva de professores que simplesmente ocupam o posto por conta do soldo do fim do mês. Sem a devida formação inicial (culpa do anacrônismo que assombra nossas universidades), fazendo pouco caso da formação em serviço e tendo a sala de aula como o mal necessário de cada dia, são profissionais que se consideram prontos e acabados, insuscetíveis de aprimoramento. Em geral, reclamam de desvalorização profissional (entenda-se baixos salários), recorrem a greves que quase sempre dão em nada, conturbando ainda mais os tortuosos e sacrificantes calendários escolares. Em contrapartida não se percebe claramente investimentos pessoais que justifiquem a valorização, por exemplo: quantos livros por ano lê um professor?
É claro que seria loucura afirmar que todos os professores se enquadram na descrição do parágrafo acima, entretanto, boa parte é assim mesmo, e disso também decorre o fato de nossos resultados serem tão ruins. Afinal, o que pode ensinar um professor que não lê, que não investe em sua capacitação e que em geral usa vícios grotescos de linguagem do tipo “a nível de”, “muitas das vezes”, gerundismos e etc? Este fato ainda tem como corolário a idéia de que qualquer um pode ser professor, de que é fácil sê-lo, de que não há competências e habilidades específicas para exercer a docência. Quando este sofisma for desfeito, talvez a valorização social (quase nunca se fala dela) possa vir a ser o primeiro sintoma de uma mudança significativa na educação.
       E os alunos? Nas escolas, sobretudo as públicas, justifica-se que o fracasso da educação reside na falta de interesse dos alunos. E em boa medida o desinteresse é mais que evidente. Nossos alunos hoje, independente de classe social, tem acesso ao mundo que a internet tem a lhes oferecer. É facebook, Orkut, MSN,  blogs, e as mais variadas ferramentas que transportam nossos discentes de seu mais longínquo domicílio a qualquer parte do planeta. De um lado temos a tela do computador, que é uma imensa porta que se abre para qualquer canto; do outro, a escola, que em seus muros encerra seus limites não só geográficos, mas culturais também. Dessa forma, não há como não ter interesse se o mundo que a escola oferece é infinitamente menor que o mundo que os meios de comunicação podem oferecer. Entretanto, como na escola, boa parte dos que ali são responsáveis pelo repasse de conhecimentos já estão mais do que preparados, não se pode falar que é necessário ter mais contato com esse mundo que os jovens alunos já dominam tão bem. Por fim, alunos desinteressados sempre existiram (quem nunca se desinteressou por alguma disciplina que atire a primeira pedra!), mas certamente sempre haverão os interessados, sobretudo quando existe alguém que lhes desperte ou motive o interesse.
Culpam-se também os pais e responsáveis dos alunos pelos desastrosos índices de aprendizagem verificados nas escolas. Ora, se aluno não tem interesse, se não aprende, e os responsáveis não lhe impõe o devido castigo para reverter a situação, como é que a educação pode melhorar?  Esse tipo de raciocínio parece dizer: a solução é encher as escolas de Assistentes Sociais que tenham como exclusiva finalidade trazer os pais à escola e responsabilizá-los pelos insucessos dos filhos. Ou, quem sabe, pôr Conselhos Tutelares em todas as escolas.
   Parece também dizer que nas escolas particulares os pais são extremamente participativos, coisa que sabemos bem não é tão verdadeira. O que existe na escola particular é uma cobrança maior dos pais, posto que ali há investimento direto, é dinheiro que sai do seu bolso direto para os cofres da escola. Mas e na escola pública? Ah, ali é diferente, porque os pais, em geral pessoas com parco nível de esclarecimento, acham que é um favor que a escola faz ao educar seus filhos. E a escola pública, (a)fundada nas práticas de benevolência com os inertes, sobrepuja a meritócracia sob o manto da ineficiência e da inoperância uma vez que não estipula metas a serem alcançadas.
Sem metas a alcançar, tudo pode continuar como está... e se é para culpar alguém, culpemos... sei lá, o sistema, que tal?
E assim continuaremos sendo os primeiros. Comemore Maranhão, somos os primeiros no ENEM, se lermos a lista de classificação de baixo pra cima!


(13.09.2011)