sábado, 26 de fevereiro de 2011

Rousseau e os Quebramolas

Rousseau tinha uma vontade muito mais que uma teoria: ver a tão sonhada democracia direta, ou seja, o povo no poder, se tornar realidade. Pena não ter vivido o loquaz genebrino nos nossos dias aqui no Maranhão. Aqui sim, vivemos a democracia plena. Nada da democracia representativa que se espalhou pelos mais recônditos rincões do globo. Não, nada disso! No Maranhão é o povo que manda! Chegamos ao paradoxo de transformar democracia em tirania. E o símbolo maior dessa realidade são os quebra-molas. Calma, eu explico.
Quem se desloca de São Luis com destino às cidades da região do Munim se depara com uma quantidade exorbitante de quebra-molas. Começando ainda dentro da ilha, poucos quilômetros depois da entrada do Maracanã, seguindo pela BR 135 na altura do município de Bacabeiras, na entrada da cidade de Rosário e, sobretudo, no trecho entre a saída deste município e a cidade de Morros. Já pensei em sugerir que nossos geógrafos denominem a região Munim de “região do quebra-molas”. Alguns deles com altura de meter medo em alpinista.
O surgimento desses quebra-molas, em geral, obedecem a uma certa lógica de fatos. Primeiro vem o acidente: alguém é atropelado, uma galinha ou um cachorro de estimação é morto por um veículo. Em seguida o parente da vítima e alguns vizinhos iniciam os serviços de cavar uma vala próximo ao local do acidente. Por segurança e precaução, os moradores cavam logo no mínimo quatro valas, próximo ao local e às suas respectivas casas. Pronto já temos a fecundação do futuro quebra-mola. Após semanas (quando não, meses!), o poder público intervém: tapa a vala e constrói ali um quebramola robusto, maravilhoso, digno se tornar o monumento daquele local. O quebramola ganha tamanha notoriedade que chega mesmo a se transformar em ponto de referencia:
- Sabe onde mora fulano de tal?
- Sim, terceira casa à direita depois do quarto quebra-molas.
Em alguns casos, o surgimento da lombada (nome técnico da monstruosidade) não é tão simples, chegando mesmo a gerar grandes confusões, com direito a participação da polícia para dar destaque maior ao nascimento do quebramola.
Em todo caso fica uma regra: o homem do povo vai lá, danifica o patrimônio público e o Estado vai e simplesmente aquiesce com tal desrespeito.
Nunca ouvi dizer que alguém foi punido por tais práticas de vandalismo. Em verdade, nunca vi nenhuma ação do Estado no sentido de responsabilizar os criminosos que comentem esses tipos de danos.
Já ouvi sim, vários relatos de pessoas que foram surpreendidas pelos intempestivos obstáculos, tendo como conseqüência imediata, além do susto, pessoas voando dentro dos carros esbarrando no teto. Depois da dor de cabeça e do torce-colo vem a dor no bolso, derivada da manutenção da suspensão automotiva. A despeito dos altos custos que se paga para manter o carro em dias com suas obrigações, o que se recebe de contrapartida do Estado é a conivência deste com práticas de vandalismo que deixam ainda mais decrépitas nossas estradas já deveras sucateadas.
Mas enfim, é o “poder do povo” sendo exercido diretamente por ele. Orgulhemo-nos de viver em um Estado onde o sonho de Rousseau se tornou realidade. E como conselho bom nunca é demais, ao dirigir pelas rodovias da região munim, um remédio para dores lombares no porta-luva é uma boa pedida!

   
Ronald Corrêa
(01.01.2008)

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